Nu.H.A.S.
TERAPEUTAS DA ALEGRIA
Certamente há coisas nessa vida que não cabem em palavras. Talvez esse aparato linguístico que se construiu enquanto vetor da comunicação não abrace alguns sentimentos e vivências: o momento que dá uma cor a mais ao monocromatismo que habita o indizível da vida. O projeto Terapeutas da Alegria certamente se insere aí: naquilo que não se sabe ao certo explicar, mas que se é, se sente e vive. Não é à toa que, hoje, na UFSC, mais de 100 voluntários tentam fazer um uníssono de corações em busca dessa aquarela no sentido do bem estar. Isso, sem dúvida, porque sabemos que a saúde é muito mais do que ter os exames em dia, é também ser feliz. Há mais de 10 anos, um quase médico pediatra teve a sutil (e ousada) ideia de incorporar o uso do jaleco branco a uma pitadinha nasal de um vermelho pulsante, assim como aquele coração serelepe. E, adentrando o hospital com a função híbrida de estudante de medicina e palhaço, ele deu início ao que hoje se estrutura enquanto projeto de extensão em três universidades espalhadas pelo estado. Ser terapeuta da alegria é fazer dos olhos de quem está no hospital não só um conta-gotas de lágrimas, mas também ser um companheiro disposto a enfrentar aquilo junto: por meio do riso, de conversa ou de um simples gesto. Ora, nem tudo se trata com remédio. Muitas vezes o que ameniza o sofrimento e dá um novo sentido ao sentimento de tristeza, não vem só em gotas ou comprimidos, mas em sorriso. Baseado nessa busca pelo cuidado sensível ao sofrimento do outro, o projeto Terapeutas da Alegria na UFSC visita alas do Hospital Universitário com o personagem palhaço formado num processo de aprendizagem que, formalmente, dura um ano. Instrumentalizados a partir de algumas etapas percorridas, os palhaços estabelecem uma relação de troca mútua com os pacientes deixando um tantinho de tudo o que aprendemos e recebendo histórias e gestos de carinho cujo resultado dá aos envolvidos nessa história toda, uma fortaleza de bons sentimentos que se contrapõem às emboscadas da vida. Fica, dessa relação, a certeza de que fazer a diferença é, antes de tudo, um resultado da mudança dentro de nós; é uma questão de querer estar no lugar que queremos transformar, usando de jogo de cintura, que nos dá a possibilidade de formar, aos poucos, uma nova realidade mais leve, possível de carregar. Talvez seja justamente isso: a leveza. Não pesa nada dar uma nova cor ao nariz, mas pesa um bocado estar num leito hospitalar sem perspectivas de melhora. É leve o jaleco pintado ou bordado, mas é pesado o traje do hospital que imprime na pessoa uma identidade adoecida. O que se busca enquanto Doutor Palhaço é mostrar que embora muitas vezes as situações pareçam nos colocar a prova, testando nossas crenças, existem pessoas que realmente se importam e nos veem como realmente somos: pessoas; simplesmente, pessoas. Não como doentes ou como aquilo que normalmente nos impomos ser. E, a partir disso, finalizar o processo para o qual nos propusemos: semear a mudança por onde passamos, tentando transformar depois de transformados.
Texto: Gustavo Machado e Joana Verani.
Valores
Humanização, Sensibilidade, Interdisciplinaridade, Educação, Responsabilidade Social e Arte.